20.7.10

O imaginário poseidon e sua destreza

Sucupira, a árvore que anuncia a sombra. Faz respirar. E deita nos ombros da moléstia. respira. Ataca o sálico paladar, desnuda e veste. Age, racha o rotineiro, lasca o menor espaço e oferece.

Vimeo

2.2.10

Esquálido torpor
Sobre o ferro
Anel que envolve o esqueleto

Diminuo, marcha lenta
Longe
pequeno

Pra você
Este acanhado sentimento
beijo

7.5.09

PRIMEIRA PARTE

A hipótese e o objetivo

Como um conjunto de aulas teóricas poderia ser útil em minha monografia? O tema se aproxima tanto da prática que por vezes parece complicado. O traço superficial e ainda rasteiro de uma idéia mais profunda poderia, nesse contexto, se firmar “realmente” na feitura, na prática em si.

Como sustentar através de “arcabouços teóricos” aquilo que só se entende, se realiza, em sua plenitude: fazendo-se. Os campos de estudo sugerem a prática, o aprendizado no local, “ON-BY-JOB”, indicando assim que toda a estrutura do ensino e da teoria deveria ser a prática.

Mas a teoria existe e não é a prática. Engraçado notar a trajetória meteórica da teoria sobre esse tema, facilmente ela se esvai e cede espaço ao instinto. Por vezes nem se quer “da às caras”. Assume-se o ofício e pronto, já o é.

Não que a teoria seja fraca ou falha. Ela é rápida e decisiva e ponto. Dura pouco, mas incrusta naquele que a tentou entender um primeiro e primordial grão, o grão primigerador de Guimarães Rosa. O subconsciente do prático está afetado e proverá de uma maneira secreta todo o instinto do indivíduo. Esse é o lugar da teoria, acredito eu, nos ofícios mais práticos: o seu pantheon.

Escrevo isso porque acredito ser importante esclarecer a relação entre a teoria e a prática no que diz respeito ao meu objeto específico: a cinematografia norte-americana, sua criação, seu conceito e sua aplicação.

Tentarei entender autores como Stephen H. Burum, ASC que editou o livro Selected Tables, Charts and Formulas for the Student Cinematographer, David E. Elkins, SOC que escreveu o livro The Camera Assistant’s Manual, Douglas C. Hart com The Camera Assistant’s Manual A Complete Professional Handbook, Barry Green, Harry C. Box com Set Lighting Technician’s Handbook e, a grande enciclopédia do cinematografista, o American Cinematographer Manual.

Dedicarei um bom tempo de minha vida a entender como funciona, como se estrutura e como se pensa na Sociedade Americana de Cinematografistas (American Society of Cinematographers). Analisarei suas relações com os membros da equipe e com os membros fora da equipe. Procurarei entender o que John Hora, ASC assim definiu:

Cinematography is a creative and interpretative process that culminates in the authorship of an original work of art rather than the simple recording of a physical event

27.1.09

Poesia do regresso

Ácido sobre a pele

Feroz ascendente circular

Anseio sorrateiro

Beijo sob a pele do raio de sol

Risada

Do jeito que eu sou

Sobre as penas avulsas de uma pavãozinho

E entre teus dedos de caipirinha

Sussurro

Agüento o lirve e macio concreto da estrutura

Sólido me sustento

Azul

13.5.07

Novas poesias

Dia desses fiz amizade com um pequeno cachorro.

Preto.

As vestes velhas e bem passadas abrigavam olhos de fragilidade. Larguei de mim toda a vaidade e passei a viver com o cão. Aprendi a baixar a cabeça, respirar e pensar. E, claro, a latir.

8.5.07

Conto antigo

José, a moça e Ele.

Num engodo, daqueles que lhe tiram o ar, José, nome vindo do pai, sacou a arma branca e cortou o pescoço.Os olhos abertos, satisfeitos ou não, anunciavam o medo da moça.O fato é que José não conteve a ira que nascia, rebentava pela superfície e lhe fazia sentir dores no peito.Foi isso, sacou a faquinha de comer e rasgou o cachaço.Agora não diz besteira.Ficou calado. O corpo de um lado e a cabeça ali, no chão de granito, no pátio do play, ao vento sereno da noite, na beira estreita do que foi e do que já não é mais.

O cigarro veio depois, amassado. O isqueiro no bolso rasgado saltou num instante.Fogo.Um trago profundo e ânsia.Veio a moça, desajeitada e gorda que era, não fazia menos que gritar.Batia também, mas José nem sentia.Então se tinha: a faca de comer, em sangue; José e cigarro; a moça e seu jeito; O defunto, repartido.O sangue secava e já fazia parte do chão, seu amigo conhecido, um lar.As cadeiras e mesas não se moveram, por isso não contam de nada.As paredes, como não ouvem, a despeito de quem ache o contrário, pareciam imóveis e insensíveis como antes.A noite escura não mudou de cor.O sol, só amanha.Restava mesmo, de imediato: a moça, José e o defunto em duas partes assimétricas.

Silêncio.A moça não grita, não bate mais.Está exausta.José não fala, nem nunca falou. É homem quieto, de poucas e raras palavras.O som que chegava da rua parecia mais nítido, confortável.Um misto de carros a passar, buzinas e só, pouco pleno.Na verdade era um carro ou outro, de vez em quando.Uma buzina, no máximo. Eis o novo formato: o novo-defunto no chão, a moça de joelhos e José, sentado. José sabia ser ele o arranjador daquele novo aspecto de vida.Pensava sereno no conteúdo da cena que lhe invadia os olhos. É certo que pensava, pois não haveria de ser de outra maneira. José sempre pensou.Pensava, pensava, pensava. Afinal era um pensador de profissão, filósofo.

Foi só.A polícia chegou.José foi pro xadrez.O defunto, junto de cada parte sua, foi pra debaixo do chão.A moça, bem, a moça saiu correndo e se jogou contra o ônibus da prefeitura, desses que transportam velhinhos.Quebrou as duas pernas e a bacia. Hoje mora no hospício regional. Cercada de flores que ela mesma planta. Cercada de gente que desconhece. Cercada de um José que corta o outro e de um Ele que não vale a pena lembrar para evitar maiores aborrecimentos.

27.4.07

Lastro Simbol

Faz tempo passou e veio de novo ontem. Era dia, sol a pino.

7.2.07

Sobre Litte Miss Sunshine

Engraçado, sem repressões violentas: esporro. Lembrar o sorriso, a "beleza inefável" que desprende-se das imagens e convence o publico. Agradável, cinematográfico moderno. O toque próximo, estrelas em carne e osso de Bresson; aquilo que o teatro priva. O emocional não interpretativo, simples. Perigo: "quanto maior o sucesso, mais ele beira o fracasso". Então o que mais dizer, se o povo gosta?
Esse passou diferente, com indicação ao Oscar e muitos pré-conceitos.
Pareceu bem, saciou.

8.11.06

Às palavras minguadas

Singela proposta emocional emanava Átila naquela noite quente, não bastasse o pinho de cachaça tomado no dia anterior mergulhava sua teia suja labial sob a vagina desajustada de Pietra, dona de um sorriso inegualável e fatal, não por isso esquecera de dizer suas meias palavras antes de deitar-lhe no seio. Breve. Rasteiro avassalador petrificou toda aquela velha estória sobre prazer e felicidade. E foi que vários teores de abstração se fizeram sorrir quando chegou o ponto, o ponto. Continuar, essa era a palavra. E ele foi. Desajustado, mas foi. Não queria mais essa presença, não. Borges não lhe explicou nada e acreditava no sucesso. Falhou.

6.10.06

Macumba

A melhor frase de todos os tempos em doces mordidas
Digo já que K. não chega aos pés
Alguma coisa a dizer?
Me dá um beijo
Me vende um beijo
Porque não roubo, acho bruto
Papel no mar com inscrição de amor
Logo tudo vai se resolver
"Comboio de cordas" não sei se aguento
Rasgo sinal em palavras soltas, como já foi dito
E quem espera essa droga de fingir?
Essa bosta fugidia e afiada

Tudo porque dias desses perdi em fracasso
"Sur" explicaria: sorria!
Mas não
Não é assim
Presta atenção, olha pra mim
Satélite de promessas como Cazuza
E escrever é bom como o de cima
De costas pro mundo, açoite fiel
Sentimento

Saravá

5.9.06

Espelho

Não quero mais esse feitiço de vinho
Entalado no peito
Que merda!
Esse sexo em chupadas...

Quero o novo, o acesso mais simples...

E se as bocas não forem mais as mesmas, suporto!
Me viro de lado, me viro de mim mesmo
Mudo. À tapas, mas mudo.
Passo por cima
Atropelo com carinho
Pra quem sabe depois
Depois...
Morrer o amor, como num "seja como for" de Drummond.
Que é mais sabido do que eu.

4.9.06

Resultado de um mergulho um pouco mais profundo e ainda sem regresso.

Enquanto acendia na cara dos homens e mulheres as luzes
Zé Celso bebia seu vinho "comuna", pacífico e distante
Foi então que ela veio...
Fechou as cortinas.

Bem, fiquei sabendo que o tempo se esgotara.
Virei, saí distinto, num trabalho de roda sem igual!
Desci, virei ,andei reto...
Depois descobri:

Não passava de um tempo que foi
Daí então pensei...
E se ele não tocasse!
Não fosse tão besta!

Sabe, como um pedaço de mim que não sai, diabo!
Quem gostaria mais de mim?
Piu piu.

30.7.06

Devaneios

Eu bebo ar
Sintonia pavorosa de luz e gente
Mar

Leal asfalto
Conduções, tremeluz ascendente
Veloz

Beijo vazio
Toque carinho, amor
Vida

Ela, só
Cálido pedido
Rio Amazonas lá vou eu

16.7.06

Escrever sobre coisas da vida, pessoas, cigarros e cervejas.

Astor Piazzola e Luciano Pavarotti juntos. Restava Herbert Vianna. Ele veio, não poderia faltar. Veio a pé, a rodas. Atravessara a cordilheira dos Andes viril e astuto. Meio do dia, sol a pino, um, dois, três, quatro quentes de nervura e a veia habitual palpitava na testa. Astor e Pavarotti de longe observavam a chegada, sorriam com olhos de brilho ao amigo. O último gesto de força indicava a chegada,o aperto de mãos e palavras cantadas. Não havia uma só delas que não fosse cantada. Não, de fato não havia. Acrescido a isso mais nada.

Escrever sobre coisas da vida, pessoas, cigarros e cervejas

Era tempo, Herbert Vianna não tocava há meses. As cordas nos dedos e o som imediato não chegavam. Quis andar, ver de cima. Fechou os olhos, imaginou retrato fixo de Annie e chorou seco. Gatinhos de veludo acentuavam a loucura e miavam sem cessar. Quis gritar, desabafar. Desistiu e fez brincar, logo logo uma linda sinfonia de gatos quis cantar. Ele deixou, se acostumou. Tempos depois tocou, mesmo trio, mesmas caras e sol em tudo.

Escrever sobre coisas da vida, pessoas, cigarros e cerveja.

O frio açoitava as costas de Luciano Pavarotti, depois daquele último show passara a noite em claro, nu. O sol descia do leste a oeste parabólica terra que anda veloz. O primeiro raio de sol fez toque na pele, desperta o desespero que é a vida e faz ver. A baba que escorria pelo beiço agradecia a retirada e pavarotti já de pé se espreguiçava - Ahhh... - A campainha soa. Veste-se, roupão de pele de raposa. Abre a porta. É Astor Piazzola vestido de terno, laço no pescoço e um chapéu de esguio, preto e branco. Astor aperta-lhe as buchechas e canta - Loco! - Pavarotti grunhindo de dor com as buchechas já vermelhas canta - Loco!

Escrever sobre coisas da vida, pessoas,cigarros e cervejas.

Luciano Pavarotti bebia seu wisky sem gelo antes do show, desenho do palco claro, as idéias mais furtivas daquela língua musical lhe prediziam toques de ar. A acessora direta de Pavarotti o berra, espaço diferente e muito mais barulhento: o lado de fora. Ele de dentro levanta a cabeça e respira seu último gole. Ergue-se meia altura, os joelhos ainda encurvados e o rabicho do traje roçava suas pernas. O olho fixo no espelho, o rosto e a gravata borboleta destoavam sua atenção. Um sorriso veio breve, as mãos apoiadas sobre a mesinha e o impulso que levantaria o corpo e espírito para o alto - Já vou, Maria. - E veio o show.

15.7.06

Color de tu

Ela veio num soturno tão discreto. Pelo muro avante ao parque o primeiro beijo em frente: uma estátua de ferro e muito sol. Dois mendigos testemunhas de um amor estranho e liso; um tempo que insiste toda hora em bater e respirar dentro fora do que sou e muito mais que isso o que não posso mais estar, ser exato e firme e reto um avante de certeza. Estou nu descontrolado sem um tico pra dizer. Amo-te flor do gasto pasto sobre um sonho de fluidos negros e lindas borboletas que deliram sobre teu cabelo cheio de um cheiro que conheço e me busca o teu suar piantao descontrolado e caudaloso. Color de tu. Gesto leve.

Rápido e rasteiro

experimenta ser único
detrás do poste largo
o amor a espreitar

vai ser, tenta ultrapassar a barreira
aluga um carro velho e desvia, voa
o amor a espreitar

e se um dia lhe achar
saiba logo sem cessar
noutro mundo vai estar

8.7.06

Oco

Samba doce escala perfumada
Riso solto som alto
Não tem medida o livre corajoso
Pra mim

Passo torto e pesado do assunto
Oste grande carro-de-homem
Não é real o rastro dos pés no asfalto
Pra mim

Vai lá, pega o "psico-homem" e varre a cabeça...
Areja, pontua e se lambe todo...

Meço o meso
Foi você quem não avisou nada
Não é não
Pra mim

9 x 9
Banco ligeiro
Rabos assados
Peido

Negli
Ência
Osco
Ol
Ato
Ias
Rreio
Eijo
Uza

Saco Plástico

Gozo

18.6.06

A todos os jovens

Essas gatinhas manhosas
Pêlo fresco
Sorrisos de sol

Calibradas de juventude
Sentinelas da precisão
Eva de Mário

Os olhos de tão menos anunciam

E nesse dia de virada
Meu desejo
A todos os jovens: um eterno feliz aniversário!

2.6.06

Bocado eterno

Pedra marcada
Doces e precoces cineastas

Então, descobri que o rastro do seio sorria um punhado de algo
Veja bem o vão!

E entrei
E lá, por um tempo fiquei

Tinha luz escura, textura de menos
Tinha gosto de dentro e fios de cabelos

Agora de fora um pouco restou
Sobejo safado, veja bem você!

E se é de findar
Agora eu vou contar

É que eu nada vi
Apenas menti!

27.5.06

Dúvida

Merda!
Quanto é o espaço do amor?

8.5.06

Priscila

Senti o gosto amargo dela sentinela na praia da África do Sul em montes finos de areia sob o raio de sol tedioso que cortava a pele macia de todos dentro d´agua doce de um lago fustigado pelo mar tão próximo. Assim, esclarecer o sentido da janela do olho do homem em difíceis convergências de pensamento não é reacionário. É livre. As vezes triste, mofino, insignificante e sensual. Palavras são medidas de um jogo aéreo, ligeiro tudo no vapor em gole de vaidade amendrotada pelo o olho do dedo que aponta a idéia. Não há de existir encomenda de tecido textual, único. Mas se pedem, o que fazer? Fica tão difícil agradar como fosse uma ordem insalubre e desmedida. Mas, se Priscila lhe pedisse um simples desejo de mulher, o faria sem cessar um castelo de idéias claras como nunca antes o fizesse. Não é um bilhete de amor, não é um flerte casual. É o passo final de um amigo que gosta e quer o abraço sincero da amizade sem dizer demais, sem extrapolar demais: simples, um simples amigo para sempre.


Beijos Pri.

26.4.06

Para a garota do sono sóbrio

Os cabelos mais perfumados
Como a pétala que ousa não ser
O tico que um dia rasguei de mim
Escada sem fim

Sapeca
Singela

Um "s" sem som
Eu gosto de você.

Para Ira

Não é o olho certo
Teu sorriso
Tuas curvas
Olhos e pernas
Linda
São os passos correntes
Tua espécie
No rabicho de olho negro
Teus cabelos
No dedo o anel não escolhido
Tua boca serpentina
E se não foi a garota dos "outros"
Minha foi.

Feliz aniversário.

24.3.06

Esquizoidia

Eu tenho dores no ombro.
Meu peito está colado na parede.
Os pêlos caem.
.

Antes de tudo acontecer...
Rasgam-me as orelhas.
Os olhos na colher.
.

Os pés não se conhecem...
Um é branco, o outro, preto.
Sou metade de outrem.

Lixo de corpos entrecortados
Corpos entrecortados de lixo
Entrecortados lixos de corpo

Novamente pra ela.

Vou-me entrepor, trepar com palavras à tal "m." secreta.
Rasgar um sinal, são palavras apenas!
A resposta, como num galope de vento e luz, não cabe no céu.
Então, como não devesse existir, esse texto se acaba...
Sem resposta, sem uma única gota de tudo.

22.3.06

Sem título

Classe média.

Pendulo que move.

Esse relógio...

Capital.

Por vezes na lama.

Por vezes na cama.

Por vezes, vezes.

Sacode o esqueleto.

Sai do caixão transparente!

Abre os olhos, vê!

5.3.06

Pra ela.

Pra ela que lê de tudo.
Pra ela, só ela.
Flores ventos assobios...
E um pouquinho daquilo que ela mais gostar.

12.2.06

Samba poconé

Você vai ver
Que o tempo passa, amor
Entre soturnos derradeiros
É o nosso amor

Tem vento, brisa leve
Tem queda de neon
Vidinha, breve
Vem

11.2.06

Passeio

Agora é hora de dar alguns passos pela cidade.Não verei bandeiras da Dinamarca em chamas, tenho certeza.Quem sabe um tigre de listras brancas?Não creio.Verei o de sempre: mulheres jeitosas com seus olhos de menos, pessoas mal resolvidas ao extremo de uma esquina e a mão estendida é pra pedir, nunca dar, negros avessos descidos do morro a sustentar o medo em roupas estilosas e simpáticas, lojas pretensiosas e seus produtos melancólicos que atraem as mais inseguras donas daqueles olhos de menos.Outras coisas verei, é aquilo que se imagina ver, o não real: Edila sambando na esquina um enredo de dó ou o homem-chapéu da uff pregado na placa como um espantalho de bobagens.É uma mistura de realidade e imaginação que entremeia o passeio que só pretende me levar ao banco para sacar dez reais.Quanta alegria!Lá vou eu.

10.2.06

Ah,um gole a mais.

Eu não rasgo um "tico" de mim.
Deixo inteiro;
Pro nada vir e tomar.
Seu gole de ânsia...
Masturbar...
Sorria!
Sou eu...
É você em mim.
Não fosse seria o quê...
Seu amor falso...
Seu medo falso...
Seu seu.
Nada...
Meu!

Ela

Além disso..
A moça no banco...
Não estava lá.

Foi o tempo.
Meu tempo?
Passei..

Aleijada que era.
Só vivia de dia.
No bank.No banco.

Sentada.
Os olhos.
Pernas imóveis

Eu.
Na noite.

Fui.

E era de de se ver.
.

Não vi.

Mas imaginei

Um traço comum.
Um beijo comum.

Um eu.
E ela.

Livre.

21.1.06

Helena espera resposta de Pedro, Pedro diz:

- É de se dizer que em pantanos encontrarei o dia quente, lama e água leitosa que chupa os pés pra debaixo da terra mole. Não é que não acredite, é que não confio na hipótese. Prefiro muito mais acreditar na bala solta que atravessa enviesados sinais de concreto pela cidade maravilhosa à me acertar o peito vazio. Assim tudo fica mais sólido e palpável podendo ainda me livrar do vazio que a tua ausência causa.

16.1.06

Sobre "Cidade Baixa" e "Cinema, aspirinas e urubus"

Esse arroste comparado do que é um ator dentro do filme, sua movimentação e sua expressão, faz do exercício um aprendizado. Cidade Baixa, em título, anuncia com presteza: são três personagens de destaque, um preto, um branco e uma puta. Todos inseridos num espaço da cidade habitualmente muito mais freqüentado, cheio de tipos e vida. Essa área entre mar e terra limita a movimentação. Já a expressão, que não se pretende limitar ao espaço, dele se influencia. Lázaro Ramos, Wagner Moura e Alice Braga atestam a seus personagens, sobre as veias do cenário-espaço, um punhado de realidade. Com certeza a movimentação e expressão são assuntos de mesma matéria, não se diz de um sem dizer do outro. A movimentação entre barco e terra dá a indicação do tipo de expressão e vice-versa.

O movimento quase que siamês entre os dois habitantes da cidade e do mar é prenuncio de um comportamento que se exprime através da amizade. Seja no espaço reduzido do barco, onde dividem o leme, ou no espaço sujo da cidade onde andam pelos bares e ruas. Toda movimentação se faz sorrateira e afetuosa com toques sinceros e palavras desmedidas de amor. A puta entra em cena e só faz romper entre os dois amigos. A carona inusitada de barco até a cidade maior enceta a separação dos aliados e diminui o espaço de ação dos personagens que agora o dividem com a moça. Toda expressão fica, nesse momento, mais tensa e tênue e chega à separação traumática que no fim se preza resolver com as mãos e pano “daquela” sobre os dois “irmãos”.

Cinema, aspirinas e urubus encena um nordeste que se esfria de dia e esquenta de noite. Peter Ketnath e João Miguel representam através de suas expressões o reflexo direto da ocupação física-espacial de seus personagens, o sertão da Paraíba. Ao contrário de Cidade Baixa a movimentação, aqui, alcança os ares secos de um nordeste impiedoso. Todo o eixo de movimento dos atores se dá em torno da amizade que acaba de nascer. A diferença natural de Johann e Ranulpho se mostra evidente nos diálogos rápidos e curiosos que aproximam pouco a pouco os personagens. A separação, tema de destaque nos dois filmes, não se iguala. Enquanto Cidade Baixa evoca um rompimento mais visceral e problemático o filme de Marcelo Gomes encara o fato com simplicidade. Cinema, aspirinas e urubus encarna um filme de estrada, de percurso. Personagens que pretendem um rumo na vida e o fazem, acompanhados ou não. O alemão fugido da guerra e o nordestino preconceituoso de si mesmo se encontram num espaço que incita a reflexão e ajuda na compreensão de um e de outro, pelo outro. É que se vê num personagem um pouco do outro, apesar das diferenças culturais, e isso renasce como um grão que “primigera” a sensação de múltiplas possibilidades. O personagem sertanejo fortalecido com o prestígio alcançado pela máquina cinema de vender pílulas derruba até o coronel, já com chifres e sem moral. O personagem estrangeiro, ausente de um espaço que lhe sirva, se movimenta em busca de um lugar onde isso possa acontecer. No fundo, são dois seres, que se cruzam e se vão impregnados um do outro pela experiência de contacto. Em Cidade Baixa esse convívio parece não ter fim e faz qualquer ânsia de separação virar um batalha regada a sangue e muita euforia. Por fim, Cinema, aspirinas e urubus e Cidade Baixa apresentam-se em imagens corridas e sons ao espectador uma vontade que se diferencia assim: o primeiro vai de leve, manso; o segundo vai pesado, inabalável.

Sobre hegemonia e dominância no "cinema clássico"

É hegemônico ou dominante por que excede outros tipos de cinema. Daí, por em causa uma questão: quais são esses “tipos”? É inevitável antes dizer, descrever com palavras no papel, material tão apto a ser impregnado de poesia e de sonhos, como a própria película, do que eu acho que aprendi, durante as aulas, que seja o “cine” clássico narrativo.

Oras, creio que a organização cronológica linear dos acontecimentos é o que há de mais estrutural e firme num cinema que opta por uma narrativa de orientação, universal, totalmente compreensível e sem ambigüidades.Está aí: é um cinema que guia, um cinema essencial, transparente, apelativo e transcendental no que diz respeito as barreiras da raça, religião, sexualidade, classe social, nação e quiçá espécie. Um cinema de essência, de mimese. É por esse caminho que se torna modelo, um exemplo de sucesso para outros que viriam, o clássico! Deste modo, a clareza imposta pelo modelo de narrativa permite a existência do filme clássico como um eixo, uma toada afirmada e introduzida pela cultura norte-americana. Os meios que se utiliza para alcançar a clareza necessária são bem interessantes. É uma luta interna para se dissimular enquanto discurso, iludir a sua artificialidade através de técnicas de continuidade, produzindo uma narração invisível, algo natural, traço essencial do “cine” clássico narrativo. Faz-se vital assim, a existência de regras. São elas que sustentam o modelo e que também limitam a criação individual, ou seja, fazem do diretor um evidente empregado dos grandes estúdios. É estilo “mais ou menos” homogêneo, presente através de décadas, estúdios, indivíduos e gêneros. Tudo que é posto em cena(mise-en-scène): atores, iluminação, cenografia, figurino, maquiagem, câmeras etc. se une, de forma orgânica na tentativa de se imprimir um cunho de verdade ao que é meramente moral. Tudo isso calcado numa lógica de causa-efeito.

Quanto aos outros “tipos” é que se diz daquilo que acontece em volta de um rio principal: a margem. Estão a margem deste cinema clássico sem, contudo, possuir menor valor. São “cines” que rebentam contra a tórrida corrente do clássico e assumem sua forma nas mais diversas tendências de cada fase. O Expressionismo Alemão, o Realismo-Poético Francês ou o Neorealismo Italiano seguem incorporando elementos estéticos de outras artes e das escolas da poesia e da pintura. São obras pessoais e subjetivas, marcadas pelo experimentalismo e por inovadoras pesquisas formais, mas distantes do sistema que é dominante, hegemônico: clássico.


14.1.06

A todos aqueles que me querem mal.

Ávida terra onde piso.
Sorte o espaço que me tem livre.

Amor e Flor, tudo na pele.

Eu não sei de quem gosto.
Poeira, asfalto frio e silêncio...
Eu sei bem que não sei.
Sombra e ela...
O machado afiado com lágrimas é atroz ao vento seco desmedido de Cavalcanti que odeia Jean, o macho avassalador filho dos pincéis atômicos de Pierre que hoje seca em óleo sobre as paredes de França, cidade-idéia, num tempo de mistura global. O feitiço oriental sem vergonha e nervoso que espalha o "que" que não é suave ao contrário do chute de pelé aos três postes do campo que um dia foi cemitério de corpos vazios maltratados pelas mães impiedosas e doces como Fellini em tudo e nada de um colorido ausente. A câmera lenta subtrai o texto que é mudo e depois não ouve o que se possa expressar a não ser pra si mesmo um truque da vida que é sua e de todos. O javali de pernas curtas avança sobre a peste entorpecida pelas carnes imundas do homem, ser...que vive a andar com a cabeça e os cabelos são pés e os pés nunca foram nada e as juntas juntadas não dão em nada que vire sexo ou beijo crioulo em sapos sem braços que não flertam lagartos rígidos do sul da Korea que produz bandeiras em tons claros para seus habitantes seres humanos como um índio qualquer ou rinocerante sem chifre que seja o único que floresce quando deita no chão e o rio caudaloso está prsente em cada um que prediz alguma coisa e come...bucetas não dogmáticas e livres, livres dos excessos da vida cheia de nada da empregada neurótica e do jogador boneco de meias do homem adulto feio de si e de nada adianta o adianto no fim do mês de um tempo preso entre cercas de números lentos e curvas totais.
Eu arranjo os passos.
Luz, máquina e natureza...
Eu escovo os pêlos da tirânia.
Grade, grade e grade...
Eu já não vejo ou sinto.
Estrepe, fumaça e rã...
Eu e o fechar dos olhos:
Chocalho de bolhas de sabão em travessas de madeira velha sem risos.
Tcha. Tcha. Tcha.

12.1.06

Início..de tudo.

Interior (casa,escada) - Noite

Homem nu fumando um malboro velho.

Renas Man

Teoria e Linguagem

Comparar e contrastar:
Montagem e forma narrativa..
Movimentação e expressão de atores..
Filho de Deus!
Me diz qual pergaminho rosa é esse?
Aquele da segunda prateleira?
Ou o da última estante no fim do túnel?
Enfim..
Bú.

City Low

Essa orgia descompassada entre luz e sombra.
Um é preto..
Outro é branco..
A seguinte é um "mix" de um e de outro.
No fim..
Só poderia ser assim..
Entre sangue e pano..
As mãos daquela sobre os dois mandarins.

Narrativas quaisquer

Essa matemática..
Em exercícios lentos de narrativa!
Qual é?

É como o baile..
É como a pisada firme de um cavalo andaluz!
Qual é?

É guerra de Ruy!
É solitário!
É?Ou não é.

11.1.06

Sobre “A Noite Americana”


“La Nuit Américaine” é nome que diz de uma cena noturna filmada de dia com um filtro especial, em americano: “Day for Night”. O que significa o título da fita cinematográfica?O reconhecimento de que o cinema americano inspirava Truffaut ou, por outro lado, um anúncio dos vários artifícios usados por um diretor para intensificar a sensação de realidade nas filmagens.

O fato é que a imagem e som da fita são apaixonantes. O estilo simples em retratos caprichados de som diz do “filme dentro do filme” um troço cheio de amor. Um avulso, franco desejo de justapor o drama real (off set) e o drama banal (on set). Diz-se do elenco para uma das razões do sucesso do filme, são eles: Jean-Pierre Léaud, famoso entre os fãs de Truffaut por já ter participado em “Os incompreensíveis” e “As duas Inglesas e o Amor”; Jean-Pierre Aumont, no papel de Alexandre, que também atuou em grandes estúdios americanos; Jaqueline Bisset, linda; Jean-François Stevenin, fez o assistente de direção e realmente assistiu Truffaut nas filmagens; Nathalie Baye, ex-dublê, faz Joelle a colaboradora: lúcida, leal e amante do que faz; Alexandra Stewart, faz a atriz grávida Stacey; Valentina Cortese, faz Severine, a toda vulnerável atriz que envelhece. Aliás, a falta de memória da personagem Severine possibilita a Truffaut a filmagem de uma cena por diversos pontos de vistas, cada vez que a cena é vista, devido aos erros de fala da “atriz-personagem”, a câmera assume uma posição diferente trazendo a realidade de se rodar um filme por várias perspectivas, mas principalmente àquela que trespassa de um filme a outro.

Mais importante ainda é o papel do próprio Truffaut como diretor do filme dentro filme. É a segunda vez que Truffaut atua em um de seus filmes, a primeira foi em “Garoto Selvagem”. Truffaut era um perfeccionista não dogmático, nunca dava ordens, só pedia. Os toques sutis extraiam grandes interpretações e colaborações da equipe. Faz Ferrand como se fosse o próprio Truffaut fazendo a si mesmo, consumido pelas filmagens, a ponto de não ter vida própria. Assim, começamos a assistir ao filme “La Nuit Américaine” supondo que seja a história que iríamos ver até ouvirmos a palavra “corta”. É daí em diante que percebemos que assistiremos a feitura do que pensávamos ser a história. Da história contada passamos ao contar de uma história, privilegiados de espiar os bastidores e ver como um filme é feito. Sem teorias complexas, sem teorias. Nos estúdios La Victorine, num velho set abandonado por razões “capitais”, Truffaut encontra o espaço físico que completaria seu imaginário e lançaria um filme sobre o filme, único.

6.1.06

Pessoas e eu.

Que divertido..
Todas as pessoas de diversas maneiras gritam!
Ao vazio.
As pernas imóveis anunciam o travo final!
São gritos involuntários de saber..
O vídeo GAME!
It´s not over!
Os dedos apontados anunciam o virtual..
E The Doors soa como um assobio alheio a tudo..

29.12.05

Todos eles.

São todos eles artistas.
Acotovelados no espaço da tela.
Raivosos, são melhores.
Velados...
São todos eles todos, menos eles.

21.11.05

Gosto de Cereja

MARCELO GOMES
ESPECIAL PARA A FOLHA

Alguns filmes têm um dom de nos entorpecer. Alguns filmes usam de artifícios caros, efeitos esplendorosos, planos espetaculares para isso. Alguns outros, e pouquíssimos, têm o dom de nos entorpecer com quase nada. Em "Gosto de Cereja", do mestre iraniano Abbas Kiarostami, é como se fôssemos hipnotizados e carregados para um mundo onde o essencial, e somente o essencial, é visível aos olhos.
A história se passa nas ruas da conturbada e caótica Teerã. Baddi , um homem de olhar triste, dirige a esmo pela cidade à procura de alguém que possa lhe fazer um favor. Essa narrativa, aparentemente simples, provocará um estardalhaço nos nossos sentimentos. Badii tem dois olhos e uma dor profunda que sai de sua alma. Um homem e a dor do mundo. Seria esse o resumo do filme.
Não existe uma história para contar. Existe uma história para ser sentida. Nada mais acontece além do que é essencial: o sentimento do mundo. Kiarostami vai à procura da simplicidade, da reconciliação com a natureza. Ele nos embaralha a cabeça, ficamos confusos. Em algum momento, já nos sentimos com a mesma dor de Badii, já estamos no meio de Teerã, procurando respostas para nossas inquietações e como ele descobrimos que, às vezes, a resposta está na nossa frente, como uma chuva que cai ou como o relampejar de um trovão.
Eu o conheci em Cannes. Conversamos e ele disse: "Gostei do seu filme, mas ele tem o mesmo problema dos meus: quase nada acontece". E eu disse: "Esse é o maior elogio que eu poderia receber". Obrigado, mestre Abbas.

Marcelo Gomes é cineasta e ganhador do prêmio da 29ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo com "Cinema, Aspirinas e Urubus", em cartaz em São Paulo.

13.11.05

David Lynch - Som e sentido

Se alguém me perguntasse quais são os filmes que, para mim, representam os exemplos mais brilhantes do que se pode realizar como cineasta, creio que eu escolheria quatro. Para começar, "Oito e Meio" [1963], para mostrar como Fellini foi capaz de obter no cinema o mesmo resultado que certos artistas conseguem na pintura abstrata, ou seja, conseguir comunicar uma emoção sem jamais falar dela ou mostrá-la diretamente, sem jamais explicá-la, quase como se fosse magia. A seguir, eu exibiria "Crepúsculo dos Deuses" [1950], um pouco pelas mesmas razões.
Porque, se o estilo de Billy Wilder não se compara ao de Fellini, ele obtém resultado mais ou menos similar, ao criar uma espécie de ambiente abstrato, menos por magia pura do que por toda espécie de invenção estilística e técnica. A Hollywood que ele nos descreve naquele filme sem dúvida jamais existiu, mas ele nos alcança e faz com que acreditemos plenamente e nos faz penetrar nela como num sonho.
Depois disso, mostraria "As Férias de M. Hulot" [1953], pela visão incrível que [Jacques] Tati tinha da sociedade. Pode-se ver, em seus filmes, como era profundo o conhecimento e o verdadeiro amor que sentia pelo ser humano, e há muito a aprender com seu exemplo.
Por fim, mostraria "Janela Indiscreta" [1954], em razão da maneira brilhante pela qual [Alfred] Hitchcock conseguiu criar -ou recriar- um verdadeiro universo no pátio daquele edifício. James Stewart não sai de sua cadeira o filme inteiro e, apesar disso, testemunha, de seu ponto de vista, uma incrível história de morte. Esse filme, a arte de condensar algo enorme e de fazer com que caiba na película, que parece minúscula, só pode funcionar por se basear em um completo domínio da imagem. [...]

Entidade sólida
Descobri o poder do som desde o começo. Trabalhei com "pintura viva", um projetor passando um filme em "loop" e o som de uma sirene rodando igualmente em "loop" por trás da cena. Desde então, sempre considerei que o som representava metade da eficácia de um filme. Temos a imagem de um lado e o som de outro, e, se o diretor sabe como aliá-los corretamente, o conjunto é muito mais forte que a soma das partes. A imagem repousa sobre toda espécie de elementos frágeis e voláteis (a luz, o enquadramento, a interpretação dos atores etc.), mas o som é uma espécie de entidade sólida e possante, que "habita" fisicamente o filme, que se instala nele como alguém se instala em uma casa.
É claro que é preciso encontrar o melhor som, o que implica muita discussão, muitos testes e muitas experiências. [...]
Cada cineasta tem hábitos ou pendores característicos, no plano técnico. Por exemplo, adoro brincar com contrastes, filmar com lentes que me dão grande amplitude de campo e ao mesmo tempo adoro close-ups muito próximos, como os fósforos em "Coração Selvagem" [1990].
Por outro lado, tenho um método muito peculiar de realizar "travellings". É um método que experimentei em "Eraserhead" [1977] e que voltei a utilizar em todos os meus trabalhos posteriores. Consiste em carregar a dolly da câmera usada no "travelling" com pesos, sacos de areia, até que pareça pesar três toneladas. São necessárias muitas pessoas para empurrá-la, e ela inicia seu percurso muito lentamente, como uma locomotiva saindo da estação.
Mas, passado um momento, a dolly ganha velocidade e, depois disso, passa a ser necessário empregar muita energia para impedir que ela corra demais. É quase necessário que alguém se jogue à sua frente para detê-la. O interessante desse método é que dá ao "travelling" uma graça e uma fluidez notáveis. Creio que o melhor "travelling" dos meus filmes esteja em "O Homem Elefante" [1980], quando Anthony Hopkins descobre pela primeira vez o homem elefante e se aproxima de seu rosto para ver sua reação.
Tecnicamente, foi uma tomada muito bem realizada, mas, além disso, no exato momento em que a câmera se detém em seu rosto, Anthony Hopkins deixa escapar uma lágrima. Isso não estava previsto. É um desses momentos mágicos que acontecem. Foi a primeira tomada, mas, após ver o que acontecera, eu nem mesmo pedi uma segunda.

O Mais-que-Perfeito combale o imperfeito.

Antes fosse certeiro o tiro, disparasse.
Não machucasse a alma desacompanhada do homem.
É negra.É feia.É de ser assim, simples.
Quando o tiro falho dói a alma é por que fora.
Um troço sem destino ferira mais, surpresa.
O fardo de quem sofre deste mal não termina jamais.
É, fosse, fora..
Eterno curativo.
É por que é.
É de ser assim, simples.
Escada sem fim, passeio.
Mas no tempo do ferimento fizera mais.
Separara o ser pela metade de si mesmo.
Jogara uma parte ao chão.
A outra, foi-se em vão.Definitiva.
Abandono e refeição.
Rio escasso e pedra.
E nos olhos o gosto leve.
E nas mãos a leve sensação.
De um dia encardido, sem qualquer coisa que pudera ser :
Alegria

2.11.05

Dias de amor.

Tanto rebuliço

A alma cheia de amor!

Satisfez

Fez-se uma em duas

Trago breve

Constante

Foram dias de amor

Hoje o peito explodiu

Mudo

Rasgou-se

E digam a todos assim:

Amei-te poucos dias mil carnavais

31.10.05

Errado

Toca a roda .

Vai depressa.

Salta a valsa .

Que?

Não foi

Já é demais

Chega de ser assim...

Fim

Fim não...quero de novo

O pescoço do pato

Vivo o pato esta pago

Tudo errado

Errado

Errado.

24.10.05

Sobre ela e eu.

No verso do outro
Sob luzes miadas azuis
Os dedos, recados...
A voz, não há.
Deita tranquilo na palha.
Observa o céu, quão esfuzio.
E é seu..
É meu..
É por que é.
É de ser assim..
Nosso.
Vira de lado
Fecha os olhos
Abre de novo
É tudo real.
É sim.
Sou eu...
É você.
Somos nós e o céu.

23.10.05

Sobre cinema.Olhar de um já experiente.

A técnica é uma ilusão

“O problema da geração mais nova [de cineastas] com relação às precedentes é o fato de ter crescido em uma cultura na qual a imagem se tornou onipresente e onipotente. Banharam-se desde pequenos no universo do videoclipe e da publicidade, que não são formatos que me atraíam, pessoalmente, mas cuja riqueza visual é inegável. E por isso os cineastas estreantes têm uma cultura e um domínio de imagem muito superiores aos que seus predecessores tinham 20 anos atrás.
Mas, em razão disso, eles também abordam o cinema de uma forma que privilegia a forma ao conteúdo, e creio que chega um momento em que isso os atrapalha. De fato, creio que a técnica é uma ilusão. [...]
Há cineastas que dizem imaginar o filme inteiro em suas cabeças, antecipadamente, mas mesmo assim há muitas coisas que não se revelam, a não ser no momento, quando todos os elementos de uma cena estão montados no local de filmagem.
O primeiro exemplo que me ocorre é o do acidente de carro em "Tudo sobre Minha Mãe" [1999]. No começo, eu planejava filmar com uma grua e terminar com um longo "travelling", acompanhando a mãe em sua corrida pela rua, sob a chuva, na direção do filho agonizante. Mas acabei por repensar e disse a mim mesmo que o "travelling" era parecido com um plano que eu já utilizara no final de "A Lei do Desejo" [1987]. E por isso decidi, de improviso, naquele momento, rodar a cena de maneira completamente diferente, ou seja, como uma tomada subjetiva. A câmera filma do ponto de vista do rapaz, passa por baixo do carro e se perde no sol, e enfim ele vê a mãe correndo em sua direção.
No final, terminou sendo sem dúvida um dos planos mais fortes do filme. No entanto não foi de maneira nenhuma premeditado. Tudo surgiu de decisões intuitivas, improvisadas ou acidentais, que são a magia da filmagem. [...]

Close-up perigoso
O fato é que não tenho fetiches ou manias, na hora de rodar uma cena. Mas, nos meus dois últimos filmes, surgiram detalhes muito peculiares. Para começar, usei um novo tipo de lente, chamadas "primes", que me satisfizeram muito, pela densidade que dão às cores e, acima de tudo -o que pode surpreender- pela textura que emprestam aos objetos que não ficam em foco, no segundo plano de certas imagens.
Além disso, e isso é o mais importante, utilizei basicamente o modo "scope", com um formato de imagem muito mais alongado. O "scope" não é um formato evidente e oferece certos problemas, especialmente no caso dos planos próximos. Para filmar um close-up nesse formato, é preciso fechar nos rostos, e ocasionalmente isso se torna perigoso, porque não há como mentir. Isso obriga a encarar a questão quanto ao que se quer realmente dizer com o close-up. Os atores precisam ser bons, e é preciso que haja algo de verdadeiro naquilo que interpretam -ou a cena descamba.
Digo isso, mas poderia facilmente oferecer um exemplo inverso daquilo que estou dizendo: [o cineasta italiano] Sergio Leone [1929-1989]. A maneira pela qual ele filmava close-ups extremamente próximos em seus westerns era completamente artificial. Lamento muito, mas Charles Bronson [1922-2003], para mim, é um ator que nada exprime. E a intensidade que deriva dos close-ups de seu rosto durante as cenas de duelo é completamente falsa. No entanto sou obrigado a reconhecer que o público adora o estilo.
O exemplo oposto é David Lynch. No caso dele, embora filme certos objetos em close-up, consegue dotar as imagens de um verdadeiro poder de sugestão.
Os planos não são só impecáveis do ponto de vista estético mas repletos de mistério. A abordagem dele corresponde à minha, mas eu sou muito mais fascinado pelos atores, adoro filmar rostos, enquanto Lynch, que começou nas artes plásticas, visivelmente se interessa mais pelos objetos.”

Pedro Almodóvar.

17.10.05

Um só.

Difícil escrever.Temas nada agradáveis tornan-se enfadonhos.O trabalho de Realidade Socioeconômica e Política Brasileira é um deles.O que o leva a tal,pedacinho de idéia,mínimo compromisso dispendioso de informção.Falta de gozo na atividade de ensinar,múmia que repete,ausente no tempo um presente fundido em argila.Diz-me isso,aquilo,vai dizendo sem parar.Diz no presente o passado e pede uma idéia do futuro.Constrói,desconstrói,mas no fim é tudo a respeito de si mesmo.
Depois é um vômito de artigo caprichado de adjetivos.Como é que se adjetiva a história?Visão pessoal de outro sobre aquilo que não se sabe nem nunca se soube.Pesquisa falada?Pesquisa copiada.Todos querem criar sua estradinha concreta e briosa.Nem que para isso tenham que se enganar e contar um texto pelo número de páginas escritas.Palavra maltratada,emudecida em si mesmo pelas mãos de um outro qualquer,safado homem que foge de si,busca adjetivos,idéias e compreensões para algo que é simples e sabido.Um só.O Homem é um só,natureza única,imprevisível,mas,um só.

15.10.05

Roteiro

15 de outubro.

Dentro da casa.Canto da sala.

O dia amanhece.Homem sentado numa cadeira confortável em frente ao computador.Ao fundo próximo, uma janela.A intensidade da luz cresce a cada minuto.Face fixa de gestos poucos.Rápidas mexidas no mouse.Com a intensidade da luz aumentando surgem os barulhos ambientes típicos de um amanhecer.

O homem então se levanta.Vai até o banheiro e mija.Lava as mãos e se dirige à cozinha.Abre a geladeira para pensar.Pensa.Pega uma garrafa d’água e bebe no bico.Vai até o quarto.Troca de roupa.Vai até a sala liga a t.v. e coloca um dvd.Vê uma cena do filme de Antonioni (Eclipse) depois desliga e sai de casa.

Abre a porta e sai.Fecha aporta e guarda a chave no bolso.Vai pelas escadas até o chão.Faz gesto ao porteiro e sai do prédio.Chega até a calçada e começa a caminhar.São três calçadas em linha reta.Dois cruzamentos de rua.Uma virada a esquerda e outra a direita até voltar a uma linha reta novamente.Agora são mais três quarteirões e dois cruzamentos de rua.No fim do último quarteirão existe um muro.Para em frente a ele e olha reto, fixo.Escuta um barulho.

Jogo de olhares: Vê acima à esquerda um homem dependurado que vira o olhar a algum lugar.O olhar da câmera se volta a esse lugar. É um gato.O olhar do gato se vira para outro lugar.O olhar da câmera se volta a esse lugar. É um rato.O olhar do rato se volta para o olhar da câmera.Aqui se dá o curto-circuito.Olhar da câmera há de se voltar para si mesma e através dos olhos do rato se vê a câmera.Percebido o jogo de olhares o olhar volta a ser da câmera novamente que no caso era o olhar sobre o rato.O tempo para aí. 10 segundo de pausa ininterrupta.Olhar da câmera sob o rato.Ouve-se outro barulho e o olhar da câmera é acionado.Vê-se agora o homem a escalar e transpor o muro.O homem consegue.O olhar da câmera fica sem olhar.O rato se foi.O gato se foi.Resta apenas o homem dependurado.O homem dependurado leva um susto e cai.O olhar da câmera acompanha a queda.Já no chão o olhar da câmera acompanha o fechar dos olhos do homem que caiu.Fade out. Fim.

Notar o falecimento da câmera.

Do olhar.

Da posição de opinião.

Da posição política.

Sobre poesia.

Eu quero varar o tempo presente.
Rasgar a superfície de mim.
Ser...
Quando sou é que sinto o que não fui.
E o que resta,é em mim:
A parte que está
E a que já não é mais,se foi...
E assim,me encho..
E assim,me esvazio..
E assim quero ser para sempre..
Um ambulante que se entope..
Um ambulante que se seca..
Poesia.