31.10.05

Errado

Toca a roda .

Vai depressa.

Salta a valsa .

Que?

Não foi

Já é demais

Chega de ser assim...

Fim

Fim não...quero de novo

O pescoço do pato

Vivo o pato esta pago

Tudo errado

Errado

Errado.

24.10.05

Sobre ela e eu.

No verso do outro
Sob luzes miadas azuis
Os dedos, recados...
A voz, não há.
Deita tranquilo na palha.
Observa o céu, quão esfuzio.
E é seu..
É meu..
É por que é.
É de ser assim..
Nosso.
Vira de lado
Fecha os olhos
Abre de novo
É tudo real.
É sim.
Sou eu...
É você.
Somos nós e o céu.

23.10.05

Sobre cinema.Olhar de um já experiente.

A técnica é uma ilusão

“O problema da geração mais nova [de cineastas] com relação às precedentes é o fato de ter crescido em uma cultura na qual a imagem se tornou onipresente e onipotente. Banharam-se desde pequenos no universo do videoclipe e da publicidade, que não são formatos que me atraíam, pessoalmente, mas cuja riqueza visual é inegável. E por isso os cineastas estreantes têm uma cultura e um domínio de imagem muito superiores aos que seus predecessores tinham 20 anos atrás.
Mas, em razão disso, eles também abordam o cinema de uma forma que privilegia a forma ao conteúdo, e creio que chega um momento em que isso os atrapalha. De fato, creio que a técnica é uma ilusão. [...]
Há cineastas que dizem imaginar o filme inteiro em suas cabeças, antecipadamente, mas mesmo assim há muitas coisas que não se revelam, a não ser no momento, quando todos os elementos de uma cena estão montados no local de filmagem.
O primeiro exemplo que me ocorre é o do acidente de carro em "Tudo sobre Minha Mãe" [1999]. No começo, eu planejava filmar com uma grua e terminar com um longo "travelling", acompanhando a mãe em sua corrida pela rua, sob a chuva, na direção do filho agonizante. Mas acabei por repensar e disse a mim mesmo que o "travelling" era parecido com um plano que eu já utilizara no final de "A Lei do Desejo" [1987]. E por isso decidi, de improviso, naquele momento, rodar a cena de maneira completamente diferente, ou seja, como uma tomada subjetiva. A câmera filma do ponto de vista do rapaz, passa por baixo do carro e se perde no sol, e enfim ele vê a mãe correndo em sua direção.
No final, terminou sendo sem dúvida um dos planos mais fortes do filme. No entanto não foi de maneira nenhuma premeditado. Tudo surgiu de decisões intuitivas, improvisadas ou acidentais, que são a magia da filmagem. [...]

Close-up perigoso
O fato é que não tenho fetiches ou manias, na hora de rodar uma cena. Mas, nos meus dois últimos filmes, surgiram detalhes muito peculiares. Para começar, usei um novo tipo de lente, chamadas "primes", que me satisfizeram muito, pela densidade que dão às cores e, acima de tudo -o que pode surpreender- pela textura que emprestam aos objetos que não ficam em foco, no segundo plano de certas imagens.
Além disso, e isso é o mais importante, utilizei basicamente o modo "scope", com um formato de imagem muito mais alongado. O "scope" não é um formato evidente e oferece certos problemas, especialmente no caso dos planos próximos. Para filmar um close-up nesse formato, é preciso fechar nos rostos, e ocasionalmente isso se torna perigoso, porque não há como mentir. Isso obriga a encarar a questão quanto ao que se quer realmente dizer com o close-up. Os atores precisam ser bons, e é preciso que haja algo de verdadeiro naquilo que interpretam -ou a cena descamba.
Digo isso, mas poderia facilmente oferecer um exemplo inverso daquilo que estou dizendo: [o cineasta italiano] Sergio Leone [1929-1989]. A maneira pela qual ele filmava close-ups extremamente próximos em seus westerns era completamente artificial. Lamento muito, mas Charles Bronson [1922-2003], para mim, é um ator que nada exprime. E a intensidade que deriva dos close-ups de seu rosto durante as cenas de duelo é completamente falsa. No entanto sou obrigado a reconhecer que o público adora o estilo.
O exemplo oposto é David Lynch. No caso dele, embora filme certos objetos em close-up, consegue dotar as imagens de um verdadeiro poder de sugestão.
Os planos não são só impecáveis do ponto de vista estético mas repletos de mistério. A abordagem dele corresponde à minha, mas eu sou muito mais fascinado pelos atores, adoro filmar rostos, enquanto Lynch, que começou nas artes plásticas, visivelmente se interessa mais pelos objetos.”

Pedro Almodóvar.

17.10.05

Um só.

Difícil escrever.Temas nada agradáveis tornan-se enfadonhos.O trabalho de Realidade Socioeconômica e Política Brasileira é um deles.O que o leva a tal,pedacinho de idéia,mínimo compromisso dispendioso de informção.Falta de gozo na atividade de ensinar,múmia que repete,ausente no tempo um presente fundido em argila.Diz-me isso,aquilo,vai dizendo sem parar.Diz no presente o passado e pede uma idéia do futuro.Constrói,desconstrói,mas no fim é tudo a respeito de si mesmo.
Depois é um vômito de artigo caprichado de adjetivos.Como é que se adjetiva a história?Visão pessoal de outro sobre aquilo que não se sabe nem nunca se soube.Pesquisa falada?Pesquisa copiada.Todos querem criar sua estradinha concreta e briosa.Nem que para isso tenham que se enganar e contar um texto pelo número de páginas escritas.Palavra maltratada,emudecida em si mesmo pelas mãos de um outro qualquer,safado homem que foge de si,busca adjetivos,idéias e compreensões para algo que é simples e sabido.Um só.O Homem é um só,natureza única,imprevisível,mas,um só.

15.10.05

Roteiro

15 de outubro.

Dentro da casa.Canto da sala.

O dia amanhece.Homem sentado numa cadeira confortável em frente ao computador.Ao fundo próximo, uma janela.A intensidade da luz cresce a cada minuto.Face fixa de gestos poucos.Rápidas mexidas no mouse.Com a intensidade da luz aumentando surgem os barulhos ambientes típicos de um amanhecer.

O homem então se levanta.Vai até o banheiro e mija.Lava as mãos e se dirige à cozinha.Abre a geladeira para pensar.Pensa.Pega uma garrafa d’água e bebe no bico.Vai até o quarto.Troca de roupa.Vai até a sala liga a t.v. e coloca um dvd.Vê uma cena do filme de Antonioni (Eclipse) depois desliga e sai de casa.

Abre a porta e sai.Fecha aporta e guarda a chave no bolso.Vai pelas escadas até o chão.Faz gesto ao porteiro e sai do prédio.Chega até a calçada e começa a caminhar.São três calçadas em linha reta.Dois cruzamentos de rua.Uma virada a esquerda e outra a direita até voltar a uma linha reta novamente.Agora são mais três quarteirões e dois cruzamentos de rua.No fim do último quarteirão existe um muro.Para em frente a ele e olha reto, fixo.Escuta um barulho.

Jogo de olhares: Vê acima à esquerda um homem dependurado que vira o olhar a algum lugar.O olhar da câmera se volta a esse lugar. É um gato.O olhar do gato se vira para outro lugar.O olhar da câmera se volta a esse lugar. É um rato.O olhar do rato se volta para o olhar da câmera.Aqui se dá o curto-circuito.Olhar da câmera há de se voltar para si mesma e através dos olhos do rato se vê a câmera.Percebido o jogo de olhares o olhar volta a ser da câmera novamente que no caso era o olhar sobre o rato.O tempo para aí. 10 segundo de pausa ininterrupta.Olhar da câmera sob o rato.Ouve-se outro barulho e o olhar da câmera é acionado.Vê-se agora o homem a escalar e transpor o muro.O homem consegue.O olhar da câmera fica sem olhar.O rato se foi.O gato se foi.Resta apenas o homem dependurado.O homem dependurado leva um susto e cai.O olhar da câmera acompanha a queda.Já no chão o olhar da câmera acompanha o fechar dos olhos do homem que caiu.Fade out. Fim.

Notar o falecimento da câmera.

Do olhar.

Da posição de opinião.

Da posição política.

Sobre poesia.

Eu quero varar o tempo presente.
Rasgar a superfície de mim.
Ser...
Quando sou é que sinto o que não fui.
E o que resta,é em mim:
A parte que está
E a que já não é mais,se foi...
E assim,me encho..
E assim,me esvazio..
E assim quero ser para sempre..
Um ambulante que se entope..
Um ambulante que se seca..
Poesia.