16.1.06

Sobre hegemonia e dominância no "cinema clássico"

É hegemônico ou dominante por que excede outros tipos de cinema. Daí, por em causa uma questão: quais são esses “tipos”? É inevitável antes dizer, descrever com palavras no papel, material tão apto a ser impregnado de poesia e de sonhos, como a própria película, do que eu acho que aprendi, durante as aulas, que seja o “cine” clássico narrativo.

Oras, creio que a organização cronológica linear dos acontecimentos é o que há de mais estrutural e firme num cinema que opta por uma narrativa de orientação, universal, totalmente compreensível e sem ambigüidades.Está aí: é um cinema que guia, um cinema essencial, transparente, apelativo e transcendental no que diz respeito as barreiras da raça, religião, sexualidade, classe social, nação e quiçá espécie. Um cinema de essência, de mimese. É por esse caminho que se torna modelo, um exemplo de sucesso para outros que viriam, o clássico! Deste modo, a clareza imposta pelo modelo de narrativa permite a existência do filme clássico como um eixo, uma toada afirmada e introduzida pela cultura norte-americana. Os meios que se utiliza para alcançar a clareza necessária são bem interessantes. É uma luta interna para se dissimular enquanto discurso, iludir a sua artificialidade através de técnicas de continuidade, produzindo uma narração invisível, algo natural, traço essencial do “cine” clássico narrativo. Faz-se vital assim, a existência de regras. São elas que sustentam o modelo e que também limitam a criação individual, ou seja, fazem do diretor um evidente empregado dos grandes estúdios. É estilo “mais ou menos” homogêneo, presente através de décadas, estúdios, indivíduos e gêneros. Tudo que é posto em cena(mise-en-scène): atores, iluminação, cenografia, figurino, maquiagem, câmeras etc. se une, de forma orgânica na tentativa de se imprimir um cunho de verdade ao que é meramente moral. Tudo isso calcado numa lógica de causa-efeito.

Quanto aos outros “tipos” é que se diz daquilo que acontece em volta de um rio principal: a margem. Estão a margem deste cinema clássico sem, contudo, possuir menor valor. São “cines” que rebentam contra a tórrida corrente do clássico e assumem sua forma nas mais diversas tendências de cada fase. O Expressionismo Alemão, o Realismo-Poético Francês ou o Neorealismo Italiano seguem incorporando elementos estéticos de outras artes e das escolas da poesia e da pintura. São obras pessoais e subjetivas, marcadas pelo experimentalismo e por inovadoras pesquisas formais, mas distantes do sistema que é dominante, hegemônico: clássico.


Um comentário:

romulo de almeida portella disse...

Rodrigo, achei um bom resumo, rápido mas focado discursivamente. Que curso foi esse que você fez?