11.1.06

Sobre “A Noite Americana”


“La Nuit Américaine” é nome que diz de uma cena noturna filmada de dia com um filtro especial, em americano: “Day for Night”. O que significa o título da fita cinematográfica?O reconhecimento de que o cinema americano inspirava Truffaut ou, por outro lado, um anúncio dos vários artifícios usados por um diretor para intensificar a sensação de realidade nas filmagens.

O fato é que a imagem e som da fita são apaixonantes. O estilo simples em retratos caprichados de som diz do “filme dentro do filme” um troço cheio de amor. Um avulso, franco desejo de justapor o drama real (off set) e o drama banal (on set). Diz-se do elenco para uma das razões do sucesso do filme, são eles: Jean-Pierre Léaud, famoso entre os fãs de Truffaut por já ter participado em “Os incompreensíveis” e “As duas Inglesas e o Amor”; Jean-Pierre Aumont, no papel de Alexandre, que também atuou em grandes estúdios americanos; Jaqueline Bisset, linda; Jean-François Stevenin, fez o assistente de direção e realmente assistiu Truffaut nas filmagens; Nathalie Baye, ex-dublê, faz Joelle a colaboradora: lúcida, leal e amante do que faz; Alexandra Stewart, faz a atriz grávida Stacey; Valentina Cortese, faz Severine, a toda vulnerável atriz que envelhece. Aliás, a falta de memória da personagem Severine possibilita a Truffaut a filmagem de uma cena por diversos pontos de vistas, cada vez que a cena é vista, devido aos erros de fala da “atriz-personagem”, a câmera assume uma posição diferente trazendo a realidade de se rodar um filme por várias perspectivas, mas principalmente àquela que trespassa de um filme a outro.

Mais importante ainda é o papel do próprio Truffaut como diretor do filme dentro filme. É a segunda vez que Truffaut atua em um de seus filmes, a primeira foi em “Garoto Selvagem”. Truffaut era um perfeccionista não dogmático, nunca dava ordens, só pedia. Os toques sutis extraiam grandes interpretações e colaborações da equipe. Faz Ferrand como se fosse o próprio Truffaut fazendo a si mesmo, consumido pelas filmagens, a ponto de não ter vida própria. Assim, começamos a assistir ao filme “La Nuit Américaine” supondo que seja a história que iríamos ver até ouvirmos a palavra “corta”. É daí em diante que percebemos que assistiremos a feitura do que pensávamos ser a história. Da história contada passamos ao contar de uma história, privilegiados de espiar os bastidores e ver como um filme é feito. Sem teorias complexas, sem teorias. Nos estúdios La Victorine, num velho set abandonado por razões “capitais”, Truffaut encontra o espaço físico que completaria seu imaginário e lançaria um filme sobre o filme, único.

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