30.7.06

Devaneios

Eu bebo ar
Sintonia pavorosa de luz e gente
Mar

Leal asfalto
Conduções, tremeluz ascendente
Veloz

Beijo vazio
Toque carinho, amor
Vida

Ela, só
Cálido pedido
Rio Amazonas lá vou eu

16.7.06

Escrever sobre coisas da vida, pessoas, cigarros e cervejas.

Astor Piazzola e Luciano Pavarotti juntos. Restava Herbert Vianna. Ele veio, não poderia faltar. Veio a pé, a rodas. Atravessara a cordilheira dos Andes viril e astuto. Meio do dia, sol a pino, um, dois, três, quatro quentes de nervura e a veia habitual palpitava na testa. Astor e Pavarotti de longe observavam a chegada, sorriam com olhos de brilho ao amigo. O último gesto de força indicava a chegada,o aperto de mãos e palavras cantadas. Não havia uma só delas que não fosse cantada. Não, de fato não havia. Acrescido a isso mais nada.

Escrever sobre coisas da vida, pessoas, cigarros e cervejas

Era tempo, Herbert Vianna não tocava há meses. As cordas nos dedos e o som imediato não chegavam. Quis andar, ver de cima. Fechou os olhos, imaginou retrato fixo de Annie e chorou seco. Gatinhos de veludo acentuavam a loucura e miavam sem cessar. Quis gritar, desabafar. Desistiu e fez brincar, logo logo uma linda sinfonia de gatos quis cantar. Ele deixou, se acostumou. Tempos depois tocou, mesmo trio, mesmas caras e sol em tudo.

Escrever sobre coisas da vida, pessoas, cigarros e cerveja.

O frio açoitava as costas de Luciano Pavarotti, depois daquele último show passara a noite em claro, nu. O sol descia do leste a oeste parabólica terra que anda veloz. O primeiro raio de sol fez toque na pele, desperta o desespero que é a vida e faz ver. A baba que escorria pelo beiço agradecia a retirada e pavarotti já de pé se espreguiçava - Ahhh... - A campainha soa. Veste-se, roupão de pele de raposa. Abre a porta. É Astor Piazzola vestido de terno, laço no pescoço e um chapéu de esguio, preto e branco. Astor aperta-lhe as buchechas e canta - Loco! - Pavarotti grunhindo de dor com as buchechas já vermelhas canta - Loco!

Escrever sobre coisas da vida, pessoas,cigarros e cervejas.

Luciano Pavarotti bebia seu wisky sem gelo antes do show, desenho do palco claro, as idéias mais furtivas daquela língua musical lhe prediziam toques de ar. A acessora direta de Pavarotti o berra, espaço diferente e muito mais barulhento: o lado de fora. Ele de dentro levanta a cabeça e respira seu último gole. Ergue-se meia altura, os joelhos ainda encurvados e o rabicho do traje roçava suas pernas. O olho fixo no espelho, o rosto e a gravata borboleta destoavam sua atenção. Um sorriso veio breve, as mãos apoiadas sobre a mesinha e o impulso que levantaria o corpo e espírito para o alto - Já vou, Maria. - E veio o show.

15.7.06

Color de tu

Ela veio num soturno tão discreto. Pelo muro avante ao parque o primeiro beijo em frente: uma estátua de ferro e muito sol. Dois mendigos testemunhas de um amor estranho e liso; um tempo que insiste toda hora em bater e respirar dentro fora do que sou e muito mais que isso o que não posso mais estar, ser exato e firme e reto um avante de certeza. Estou nu descontrolado sem um tico pra dizer. Amo-te flor do gasto pasto sobre um sonho de fluidos negros e lindas borboletas que deliram sobre teu cabelo cheio de um cheiro que conheço e me busca o teu suar piantao descontrolado e caudaloso. Color de tu. Gesto leve.

Rápido e rasteiro

experimenta ser único
detrás do poste largo
o amor a espreitar

vai ser, tenta ultrapassar a barreira
aluga um carro velho e desvia, voa
o amor a espreitar

e se um dia lhe achar
saiba logo sem cessar
noutro mundo vai estar

8.7.06

Oco

Samba doce escala perfumada
Riso solto som alto
Não tem medida o livre corajoso
Pra mim

Passo torto e pesado do assunto
Oste grande carro-de-homem
Não é real o rastro dos pés no asfalto
Pra mim

Vai lá, pega o "psico-homem" e varre a cabeça...
Areja, pontua e se lambe todo...

Meço o meso
Foi você quem não avisou nada
Não é não
Pra mim

9 x 9
Banco ligeiro
Rabos assados
Peido

Negli
Ência
Osco
Ol
Ato
Ias
Rreio
Eijo
Uza

Saco Plástico

Gozo